sábado, 7 de março de 2015

Neolesbianismo: uma análise sociológica

Sappho and Erinna in A Garden at Mytilene, Simeon Solomon

            Desde o início da contemporaneidade, mais precisamente a partir da revolução sexual, nos idos do século XX, surgiram os primeiros exemplares da classe que aqui é objeto de análise. Antes de tudo, é necessário examinar o termo que intitula a redação: o que seria o neolesbianismo? Malgrado o que o nome indica, o “neolesbianismo” não designa necessariamente o comportamento homossexual entre mulheres; “neolesbianismo” significa, antes de tudo, um comportamento adquirido a partir da fragilização do pensamento dualista e heterossexual das relações. Desde quando tornaram-se reconhecidas como naturais relações que iam além do padrão maniqueísta homem-mulher, as primeiras neolésbicas surgiram. Não como um mero comportamento sexualmente atípico, mas sobretudo um fenômeno cultural e histórico, que envolve implicações sobre gênero, identidade etc. Portanto, o neolesbianismo, além do que o signo aponta, não habita apenas esferas sexuais, mas behavioristas.
            O prefixo “neo” já norteia uma lógica que torna o lesbianismo, já há décadas reconhecido como orientação e não como patologia, num comportamento ainda mais contemporâneo. Para além dos trejeitos estereotípicos da homossexualidade feminina, o universo neolésbico agrega não apenas mulheres legitimamente homossexuais, como também mulheres heterossexuais. A neolésbica é aquela mulher “prática e contemporânea”, que escancara toda a liberdade sobre o seu próprio corpo em visuais diferenciados, como cabelos curtos e combinações extravagantes de roupas e adornos. Como o neolesbianismo é um comportamento, a mulher neolésbica, em contradição à feminilidade, carrega em seu jeito de ser elementos pertencentes ao universo masculino, exalando autoridade e rudeza. Todavia, já que seu corpo físico é naturalmente feminino, gera-se um grande paradoxo entre o comportamento masculino e as feições femininas, moldadas fisionomicamente na delicadeza e na sutileza típicas deste sexo.
            Entrando mais a fundo numa esfera de fato sexual, temos um famigerado elemento que suscita em campos além dos limites corporais: o pênis. É sabido que o falo, ao longo da história humana, não representou apenas um dos básicos coadjuvantes da cópula, mas tornou-se um símbolo de poder: em épocas mais primitivas, um falo ereto era símbolo de intimidação, denotando autoridade. No entanto, devido a divergências culturais, o poder foi sendo imposto a partir de outros significantes. Mas o que teria isso a ver com a teoria do neolesbianismo? Investigando friamente a relação sexual tradicional, é sabido que o sexo, para além das suas finalidades, é um legítimo jogo de poder: há o elemento ativo (homem) e o elemento passivo (mulher). Na homossexualidade masculina, malgrado a troca de papéis, o jogo de poder ainda sobrevive; contudo, na ocasião do sexo lésbico, já que não há o elemento de poder (falo), torna-se impossível o tradicional jogo de poder de forças díspares: não há mais o conflito entre o pênis e o orifício. Entretanto, contradizendo os limites anatômicos, a perseguição obsessiva pelo poder, ou seja, a vontade de ter um pênis supre toda a insuficiência. Deste modo, não importa a fisiologia: a ânsia mais intrínseca pelo poder do falo já o substitui por completo. É isso que torna o cerne do neolesbianismo tão fascinante.

            Portanto, o neolesbianismo é a resposta para a grande questão que pairou sobre campos da psicologia e até mesmo da biologia; as mulheres neolésbicas, com seu comportamento livre de rédeas conservadoras, alcançam a amplitude do espectro sexual humano e são mais uma feliz tentativa de ruir os limites que, em toda a história, segregaram e simplificaram as diversas esferas da sexualidade e do comportamento do ser humano. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário