Sappho and Erinna in A Garden at Mytilene, Simeon Solomon
O
prefixo “neo” já norteia uma lógica que torna o lesbianismo, já há décadas
reconhecido como orientação e não como patologia, num comportamento ainda mais
contemporâneo. Para além dos trejeitos estereotípicos da homossexualidade
feminina, o universo neolésbico agrega não apenas mulheres legitimamente
homossexuais, como também mulheres heterossexuais. A neolésbica é aquela mulher
“prática e contemporânea”, que escancara toda a liberdade sobre o seu próprio
corpo em visuais diferenciados, como cabelos curtos e combinações extravagantes
de roupas e adornos. Como o neolesbianismo é um comportamento, a mulher
neolésbica, em contradição à feminilidade, carrega em seu jeito de ser
elementos pertencentes ao universo masculino, exalando autoridade e rudeza.
Todavia, já que seu corpo físico é naturalmente feminino, gera-se um grande
paradoxo entre o comportamento masculino e as feições femininas, moldadas
fisionomicamente na delicadeza e na sutileza típicas deste sexo.
Entrando
mais a fundo numa esfera de fato sexual, temos um famigerado elemento que
suscita em campos além dos limites corporais: o pênis. É sabido que o falo, ao
longo da história humana, não representou apenas um dos básicos coadjuvantes da
cópula, mas tornou-se um símbolo de poder: em épocas mais primitivas, um falo
ereto era símbolo de intimidação, denotando autoridade. No entanto, devido a
divergências culturais, o poder foi sendo imposto a partir de outros
significantes. Mas o que teria isso a ver com a teoria do neolesbianismo?
Investigando friamente a relação sexual tradicional, é sabido que o sexo, para
além das suas finalidades, é um legítimo jogo de poder: há o elemento ativo
(homem) e o elemento passivo (mulher). Na homossexualidade masculina, malgrado
a troca de papéis, o jogo de poder ainda sobrevive; contudo, na ocasião do sexo
lésbico, já que não há o elemento de poder (falo), torna-se impossível o
tradicional jogo de poder de forças díspares: não há mais o conflito entre o
pênis e o orifício. Entretanto, contradizendo os limites anatômicos, a
perseguição obsessiva pelo poder, ou seja, a vontade de ter um pênis supre toda
a insuficiência. Deste modo, não importa a fisiologia: a ânsia mais intrínseca
pelo poder do falo já o substitui por completo. É isso que torna o cerne do
neolesbianismo tão fascinante.
Portanto,
o neolesbianismo é a resposta para a grande questão que pairou sobre campos da
psicologia e até mesmo da biologia; as mulheres neolésbicas, com seu
comportamento livre de rédeas conservadoras, alcançam a amplitude do espectro
sexual humano e são mais uma feliz tentativa de ruir os limites que, em toda a
história, segregaram e simplificaram as diversas esferas da sexualidade e do
comportamento do ser humano.
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