A solidão
universal, no caso deste projeto, não é
interpretada como o sentimento de vazio e isolamento gerado a partir da
carência da companhia, mas sim de uma carência universal de sentido, um sentido
para a existência, assim como um valor para ela, que acomete à todos os seres
humanos existentes.
Desde o princípio, o ser humano
vivia em contato com a natureza - inclusive com a sua própria natureza humana.
Nela, sempre existiram determinados acontecimentos que o homem, naquela época,
desconheciam suas causas. Logo, a partir das constantes aparições destes
fenômenos naturais, o ser humano desenvolveu consigo uma grandiosa e vivaz curiosidade.
Ao longo do tempo, o ser humano se
deu conta de que, em sua volta, existia um grande mistério e,
posteriormente, uma avassaladora sede de conhecimento. Em contato com
este vasto caminho de incógnitas, mistérios e desconhecidos, o ser humano
concluiu de que nada conhecia. Por conseguinte, passou a duvidar de sua própria
natureza e a refletir acerca do cerne de sua existência, passando a se
perguntar "De onde viemos?", "Por que razão estamos
aqui?", "Quem somos?", "Para onde
vamos?", entre outras questões mais específicas. Assim, a partir
destas grandes dúvidas, surgem as teorias do conhecimento.
Destas questões, nasceram os métodos
de conhecimento, que passaram a se divergir em virtude de suas diferentes
interpretações e concepções, mas que surgiram essencialmente impulsionadas pela
vontade da verdade: a ciência, com o seu ceticismo e busca pela verdade
com experimentos e pesquisas empíricas; a filosofia, com a sua reflexão
introspectiva e a mitologia e suas entidades que, posteriormente, criaram a religião,
foco deste projeto.
O ser humano, como necessidade de
atribuir sentido aos seus atos, atitudes e comportamentos e de criar base para
seus valores, virtudes e crenças, criou a religião, que passou a
determinar, não só padrões ritualísticos e místicos, como também para delimitar
a forma com que o mundo seria pensado e criar interpretações e concepções
acerca da natureza, bem como para organizar uma sociedade, assumindo um
importante papel político. O ser humano, logo, se deu agora confortável com a criação
de suas crenças e, por conseguinte, com a explicação, mesmo que fictícia, de
seus fenômenos naturais.
A religião – preponderantemente a
cristã – é, na sua mais pura forma, um colossal instrumento político. Desde os
primórdios da sociedade, a religião dominou o governo regente e ditou a cultura
e a moral vigente. O complexo e aparentemente infalível instrumento da fé (certeza irracional na existência de
algo) se tornou o principal método de introdução de crença, uma vez que se dá
tão particular e forte na vida quotidiana do indivíduo, gerando grande
influência na mentalidade individual e, até mesmo, em sua personalidade. Sendo
que a fé não possui bases racionais, torna-se impossível comprovar ou refutar a
existência de algo, formando-se uma incógnita, oriunda da incapacidade de
conhecer as entidades divinas envolvidas que, posteriormente, se torna
inquestionável e inflexível. Tanto que a fé cristã vigora até a
contemporaneidade após se expandir mundialmente em grande escala.
Um dos grandes motivos para os
indivíduos adquirirem a fé é o de seguir uma vida regrada, moralmente
estabilizada e valorizada. O ser humano necessita de uma limitação e uma
organização para o seu comportamento, assim como uma companhia exterior e
metafísica (que, na maioria das vezes, ela mesmo idealiza) que cessa todas as
suas dores provenientes naturalmente da própria existência e lhe traça um
objetivo a seguir e um molde existencial (uma virtude, resultado dos valores e crenças postos em prática) para o
indivíduo viver. A angústia oriunda do niilismo
(crença em uma vida desprovida de sentido) estimula e impulsiona o indivíduo a
se agregar em determinado tipo de crença, frequentemente sem o uso da crítica,
tendo como único intuito a amenização do sofrimento humano diante do vazio que
o mundo e a natureza nos apresentam.
A Bíblia, livro sagrado dos
cristãos, nada mais é do que uma mitologia com um grande poder político, que se
torna cada vez mais branda devido ao seu complexo sistema que une os mais
variados aspectos presentes na espiritualidade, mentalidade, moralidade e
ideais.
Este livro, base da tanto da
doutrina cristã como do judaísmo e do islamismo, estava fortemente inerente ao
governo – teocracia -, principalmente
no início do período medieval, período este no qual existia grande ignorância,
crueldade e especismos. Porém, no período correspondente ao Renascimento, o
sistema medieval se rompeu e deu lugar ao clássico culto à razão e ao
pensamento, em contradição com a fé e ao rebuscar o antropocentrismo (o ser
humano como centro de entendimento dos humanos) presente nas culturas clássicas
(Grécia e Roma antiga) em contradição com o teocentrismo (Deus como centro de
entendimento dos humanos). Com isso, um grande movimento cultural e filosófico
se desenvolveu grandiosamente, se sobrepondo ao misticismo e aos conceitos de
fé com as novas interpretações, concepções e visões de mundo renascidas através
do avanço da ciência. Como grande número dos aspectos filosóficos e científicos
provenientes do período renascentista vigoraram ao longo de todos os grandes
períodos históricos posteriores, tais conceberam grande influência às culturas
e ao pensamento humano, servindo como protótipo, como um modelo de pensamento
virtuoso a seguir pelas outras organizações sociais, preponderantemente à
sociedade ocidental. Porém, este fato gerou um grande enfraquecimento nas bases
nas quais a religião se mantinha, diminuindo o vigor religioso presente nos
sombrios tempos medievais. Com as descobertas da ciência em conjunto com a
evolução do pensamento filosófico humano, o ser humano deu um grande passo além
das concepções arcaicas presentes nas culturas religiosas. A moral e a ética
entraram em um processo de desenvolvimento e transformação ao longo da crítica
e da reflexão acerca dos valores religiosos. Assim, a cultura cristã teve de se
moldar em uma moralidade que atende às condições que nossa sociedade
contemporânea dita, gerando uma certa hipocrisia ao admitir que a Bíblia é um
guia de vida, porém descartando passagens cruéis e antiéticas. A Bíblia, logo,
se mostra como uma moral extremamente antiquada em contraste ao que nossa ética
atual clama.
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