sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Desenterrando pérolas filosóficas

  

          Velho texto filosófico acerca da "solidão universal".
            A solidão universal, no caso deste projeto, não é interpretada como o sentimento de vazio e isolamento gerado a partir da carência da companhia, mas sim de uma carência universal de sentido, um sentido para a existência, assim como um valor para ela, que acomete à todos os seres humanos existentes.
            Desde o princípio, o ser humano vivia em contato com a natureza - inclusive com a sua própria natureza humana. Nela, sempre existiram determinados acontecimentos que o homem, naquela época, desconheciam suas causas. Logo, a partir das constantes aparições destes fenômenos naturais, o ser humano desenvolveu consigo uma grandiosa e vivaz curiosidade.
            Ao longo do tempo, o ser humano se deu conta de que, em sua volta, existia um grande mistério e, posteriormente, uma avassaladora sede de conhecimento. Em contato com este vasto caminho de incógnitas, mistérios e desconhecidos, o ser humano concluiu de que nada conhecia. Por conseguinte, passou a duvidar de sua própria natureza e a refletir acerca do cerne de sua existência, passando a se perguntar "De onde viemos?", "Por que razão estamos aqui?", "Quem somos?", "Para onde vamos?", entre outras questões mais específicas. Assim, a partir destas grandes dúvidas, surgem as teorias do conhecimento.
            Destas questões, nasceram os métodos de conhecimento, que passaram a se divergir em virtude de suas diferentes interpretações e concepções, mas que surgiram essencialmente impulsionadas pela vontade da verdade: a ciência, com o seu ceticismo e busca pela verdade com experimentos e pesquisas empíricas; a filosofia, com a sua reflexão introspectiva e a mitologia e suas entidades que, posteriormente, criaram a religião, foco deste projeto.
            O ser humano, como necessidade de atribuir sentido aos seus atos, atitudes e comportamentos e de criar base para seus valores, virtudes e crenças, criou a religião, que passou a determinar, não só padrões ritualísticos e místicos, como também para delimitar a forma com que o mundo seria pensado e criar interpretações e concepções acerca da natureza, bem como para organizar uma sociedade, assumindo um importante papel político. O ser humano, logo, se deu agora confortável com a criação de suas crenças e, por conseguinte, com a explicação, mesmo que fictícia, de seus fenômenos naturais.

            A religião – preponderantemente a cristã – é, na sua mais pura forma, um colossal instrumento político. Desde os primórdios da sociedade, a religião dominou o governo regente e ditou a cultura e a moral vigente. O complexo e aparentemente infalível instrumento da (certeza irracional na existência de algo) se tornou o principal método de introdução de crença, uma vez que se dá tão particular e forte na vida quotidiana do indivíduo, gerando grande influência na mentalidade individual e, até mesmo, em sua personalidade. Sendo que a fé não possui bases racionais, torna-se impossível comprovar ou refutar a existência de algo, formando-se uma incógnita, oriunda da incapacidade de conhecer as entidades divinas envolvidas que, posteriormente, se torna inquestionável e inflexível. Tanto que a fé cristã vigora até a contemporaneidade após se expandir mundialmente em grande escala.
            Um dos grandes motivos para os indivíduos adquirirem a fé é o de seguir uma vida regrada, moralmente estabilizada e valorizada. O ser humano necessita de uma limitação e uma organização para o seu comportamento, assim como uma companhia exterior e metafísica (que, na maioria das vezes, ela mesmo idealiza) que cessa todas as suas dores provenientes naturalmente da própria existência e lhe traça um objetivo a seguir e um molde existencial (uma virtude, resultado dos valores e crenças postos em prática) para o indivíduo viver. A angústia oriunda do niilismo (crença em uma vida desprovida de sentido) estimula e impulsiona o indivíduo a se agregar em determinado tipo de crença, frequentemente sem o uso da crítica, tendo como único intuito a amenização do sofrimento humano diante do vazio que o mundo e a natureza nos apresentam.
           
            A Bíblia, livro sagrado dos cristãos, nada mais é do que uma mitologia com um grande poder político, que se torna cada vez mais branda devido ao seu complexo sistema que une os mais variados aspectos presentes na espiritualidade, mentalidade, moralidade e ideais.

            Este livro, base da tanto da doutrina cristã como do judaísmo e do islamismo, estava fortemente inerente ao governo – teocracia -, principalmente no início do período medieval, período este no qual existia grande ignorância, crueldade e especismos. Porém, no período correspondente ao Renascimento, o sistema medieval se rompeu e deu lugar ao clássico culto à razão e ao pensamento, em contradição com a fé e ao rebuscar o antropocentrismo (o ser humano como centro de entendimento dos humanos) presente nas culturas clássicas (Grécia e Roma antiga) em contradição com o teocentrismo (Deus como centro de entendimento dos humanos). Com isso, um grande movimento cultural e filosófico se desenvolveu grandiosamente, se sobrepondo ao misticismo e aos conceitos de fé com as novas interpretações, concepções e visões de mundo renascidas através do avanço da ciência. Como grande número dos aspectos filosóficos e científicos provenientes do período renascentista vigoraram ao longo de todos os grandes períodos históricos posteriores, tais conceberam grande influência às culturas e ao pensamento humano, servindo como protótipo, como um modelo de pensamento virtuoso a seguir pelas outras organizações sociais, preponderantemente à sociedade ocidental. Porém, este fato gerou um grande enfraquecimento nas bases nas quais a religião se mantinha, diminuindo o vigor religioso presente nos sombrios tempos medievais. Com as descobertas da ciência em conjunto com a evolução do pensamento filosófico humano, o ser humano deu um grande passo além das concepções arcaicas presentes nas culturas religiosas. A moral e a ética entraram em um processo de desenvolvimento e transformação ao longo da crítica e da reflexão acerca dos valores religiosos. Assim, a cultura cristã teve de se moldar em uma moralidade que atende às condições que nossa sociedade contemporânea dita, gerando uma certa hipocrisia ao admitir que a Bíblia é um guia de vida, porém descartando passagens cruéis e antiéticas. A Bíblia, logo, se mostra como uma moral extremamente antiquada em contraste ao que nossa ética atual clama.

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